domingo, 8 de fevereiro de 2009

carta de uma mãe para o filho

Querido filho Manoel Joaquim:



Escrevo-te estas linhas para que saibas que a mãe está viva. Vou escrever bem devagar,
pois sei que não consegues ler depressa.


Caso estejas sem tempo para escrever à mãe, manda-me uma carta dizendo que quando
estiveres mais tranquilo vais mandar notícias.


Temos agora uma máquina de lavar roupa.
Mas não trabalha muito bem. Na semana passada pus lá 14 camisas, apertei o botão e nunca mais as vi.
Vais ver que esta marca Hydra não é das melhores.


Tua irmã Maria está grávida.
Mas ainda não sabemos se vai ser menino ou menina. Portanto, não podemos dizer-te
se vais ser tio ou tia.


Teu pai arranjou um bom emprego. Tem 2300 homens abaixo dele.
É o responsável pelo corte da relva no cemitério.


Quem anda sumido é o teu tio Venâncio, que morreu no ano passado.


Lembras-te do tio Joaquim? Então... afogou-se o mês passado num depósito de vinho.
Oito compadres dele tentaram salvá-lo, mas o tio lutou bravamente contra eles.


O corpo foi cremado há duas semanas. Levaram oito dias para apagar o incêndio.


Os engarrafadores de refrigerante daqui finalmente tiveram a grande ideia de colocar uma indicação na tampinha, dizendo "abra por aqui". Facilitou-nos muito a vida.
Espero que os daí façam a mesma coisa.


Caso esteja difícil para ti, a mãe manda-te algumas garrafas.



Teu irmão, João Manuel, continua o mesmo de sempre. Na semana passada fechou o carro com as chaves dentro.
Perdeu um tempão indo até a casa pegar a cópia da chave, para poder tirar-nos todos
de dentro do automóvel. Estava um calor de rachar.


Por falar em calor, o tempo aqui está muito estranho. Esta semana só choveu duas vezes.
Na primeira vez choveu durante 3 dias e na segunda vez choveu durante 4 dias.


Esta carta mando-a através do Gabriel, que vai amanhã para aí.
A propósito, será que podes pegá-lo no aeroporto?


Lembrei-me de uma coisa importante. Terás um problema para falar com a mãe, caso decidas
escrever-me… Não sei o endereço desta casa nova. A última família que morou aqui, antes de nós, também era portuguesa, mas levou a placa da rua e o número da casa para não precisar mudar de endereço.


Se encontrares a Teresa, dá-lhe "um olá" da minha parte. Caso não a encontres, não precisas dizer nada.


Adeus.
Tua mãe que te ama.
Fátima Manoela da Alcova


P.S.: Ia mandar-te 2.000 euros, mas fica para outra vez. Já fechei o envelope.

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